28 março, 2009

Instruções de Smelser III


Isso é útil para todos: (a partir de SMELSER, Neil J. Comparative Methods in the Social Sciences. N. J., Prentice Hall, 1976.)

6) Dois importantes e recorrentes problemas das inferências causais: a falácia ecológica e a falácia individualista:

Um importante problema que afeta as inferências causais consiste em, a partir de dados e associações entre variáveis observadas num dado nível, produzir inferências causais para um outro nível. Especificando: o analista coleta dados no nível individual (como atributos pessoais, motivações políticas subjetivas etc.) e a partir desses dados e das associações constatadas nesse nível faz inferências para o nível da estrutura social (como, por exemplo, estabilidade do sistema democrático). Portanto, é muito importante estar atento aos diversos níveis de análise. Em geral, os dados são coletados nos seguintes níveis: a) individual: variáveis relativas aos atributos de pessoas individuais: idade, sexo, atitudes etc.; b) atributos agregados da população: por exemplo, a média de renda de uma população, o percentual de mulheres, de democratas etc.; c) interações sociais padronizadas: dados referentes aos papéis e estruturas sociais, como, por exemplo, a “estrutura familiar”, quando dizemos que as mesmas pessoas (o homem adulto categorizado como pai, a mulher como esposa etc.) vivem sob um mesmo teto numa situação relacional; d) padrões culturais: variáveis referentes a valores, visões de mundo, conhecimento, símbolos de uma coletividade, como os cristão, os judeus etc. (226-227).

Transitar de um nível para outro pode nos levar a cometer dois tipos de falácias: (i) a falácia ecológica (ou falácia do grupo), que consiste em coletar dados agregados e, a partir deles, produzir consideração sobre os indivíduos. Por exemplo, imagine-se que a renda média do brasileiro é menor que a renda média do argentino. Seria falácia ecológica achar que se pegarmos qualquer brasileiro aleatoriamente e qualquer argentino aleatoriamente, o brasileiro forçosamente teria uma renda menor que o argentino; (ii) falácia individualística, que consiste no contrário, coletar dados a partir do nível individual e fazer inferências globais. Por exemplo, constatar que os indivíduos têm disposições políticas democráticas e afirmar que isso está ligado à estrutura do sistema político, como se atributos individuais se traduzissem mecanicamente em atributos sistêmicos (227).


Portanto, é perigoso fazer inferências num nível de análise diferente daquele em que os dados e as associações foram observadas. Além disso, é preciso haver correspondência entre o nível de análise e o conceito analisado. Por exemplo, generalizações sobre o “caráter nacional” devem ser feitas com base em dados individuais sobre atributos de personalidade, visto que o conceito é elaborado em termos individuais (este caráter descreve um tipo de personalidade) (229).

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