28 março, 2009

Instruções metodológicas de N. Smelser


Alguns testes para averiguar a força de uma teoria, de acordo com Smelser:
SMELSER, Neil J. Comparative Methods in the Social Sciences. N. J., Prentice Hall, 1976.

1) Toda teoria contém uma mistura de condições paramétricas (tidas como constantes) e variáveis operativas (isto é, condições que variam e, por isso, são explicativas). Qualquer teoria deve ser avaliada em termos do que ela considera como variável e como constante. Se uma teoria "congela" certas variações empíricas, transformando-as em paramétricas (isto, assumindo-as como constantes), isto deve ser considerado como um procedimento legítimo e necessário a fim de produzir uma "teoria manuseável". Ao mesmo tempo, ao deixar isso claro, não se pode esperar da teoria que ela explique variações naquilo que ela assume como constante. Ou seja, isso ajuda deixar claros os limites da teoria.

2) Qualquer teoria deve ser também avaliada em termos da distinção entre afirmações que se baseiam em observação empírica e afirmações que se baseiam em "outros tipo de conhecimento" (pressupostos psicológicos, senso-comum, deduções lógicas etc.) que não pode ser diretamente avaliado. Examinando uma teoria nesses termos podemos dizer quanto dela baseia-se em especulação (240).

3) As teorias devem ser avaliadas também quanto às dimensões desse "outro conhecimento" que permanecem implícitas. Por exemplo, quando se utiliza determinados dados, mesmo que estatísticos, para desvendar uma relação causal, é preciso deixar claro quem coletou e como foram coletados os dados, pois esses dois itens formam pressupostos teóricos não explicitados.

4) Por fim, sobretudo para o método comparativo, qualquer teoria deve ser examinada com vistas a saber se seus parâmetros - isto é, aquelas condições que ela encara como constantes - podem ser de fato generalizáveis para todas as unidades que compõem o estudo comparativo. Por exemplo, poderíamos dizer que, ao comparar os seus casos, Barrington Moore transforma a mercantilização da economia agrária tradicional, pré-capitalista, numa condição paramétrica, presente em todos os casos e que, para fins de viabilização da pesquisa, assume-se ser em geral parecida em todos os caso. O que variam (as variáveis operativas) são outras condições: natureza da relação entre as classe, a existência/ausência de uma burguesia comercial e industrial forte, a existência/inexistência de aristocracia agrária forte, a existência/inexistência de uma classe camponesa forte etc. Questão: seria a mercantilização da agricultura uma condição paramétrica de generalização válida para os casos em questão? Claro, isso é apenas para ilustrar.

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